A 27ª edição do INSPIRAMAIS, salão que lançou mais de mil materiais para as indústrias de calçados, confecção, móveis e bijuterias, além de fomentar negócios na cadeia produtiva da moda, trouxe muito conteúdo de qualidade. No total, foram dois dias intensos com 14 palestras sobre temas que iam de design à sustentabilidade. O evento promovido pela Associação Brasileia das Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal) e entidades parceiras aconteceu no Centro de Eventos da FIERGS nos dias 24 e 25 de janeiro.
Logo no primeiro dia, como de praxe, o estilista Walter Rodrigues, coordenador do Núcleo de Pesquisa e Design da Assintecal, destacou o tema da pesquisa – Primal – que deu origem aos materiais apresentados no espaço Conexão Criativa INSPIRAMAIS. Na oportunidade, o estilista destacou que de 2018 para cá houve um movimento na indústria de moda voltado grandemente a texturas como couro e denin, trazendo, principalmente para o vestuário masculino, um mix de masculinidade com referências de moda e comportamento.
“Pode se observar essa influência também no design de mobiliários que trazem um visual mais primitivo, porém com texturas diferenciadas. Com relação ao tema masculinidade reproduzida no cinema e nas novelas, surge o tema etéreo trazendo consigo a natureza, o delicado, o fluído”, disse.
Já o segundo tema, o legado, dividido em duas partes, apresenta a importância da aplicação de práticas sustentáveis e rusticidade da matéria representada em aspectos crus. Na linha western, podem ser observados novos bicos, botas e a massificação do denin. A mistura do natural com o tecnológico expressada no misto de bruto com rendados ou transparências, podem ser verificadas do vestuário ao design de mobiliário.
O terceiro tema é a biomimética, que encontra sua inspiração na riqueza natural, como aspecto de mofo, peles de animais, cogumelos e vegetais. O tema simbiose alia as formas ancestrais com a tecnologia, por meio da renovação da matéria e aproveitamento dos estoques.
Por fim, o tema biônico, apresenta a possibilidade de explorar novos tipos de calçados, com estruturas exageradas com facilitação para os injetados, além da volta ao básico, o aspecto de austeridade do personagem a ser incorporado pelo consumidor por meio da moda.
Senai
Na programação de palestras do primeiro dia, destaque também para o Instituto Senai de Inovação, que apresentou diversos materiais criados como alternativas sustentáveis, como as fibras feitas de retalhos, fibra de pupunha do pseudocaule da banana e outro forjado de resíduo de pelos de pets shops, resultantes das tosas, aliado ao produto de garrafas pets. Plasma atmosférico, eletrofiação, fiação a úmido também foram técnicas relatadas.
O primeiro dia contou, ainda, com palestras de startups como a Tendenzia – www.tendenzia.com.br – , plataforma de pesquisa que informa as tendências da moda voltada para a indústria de calçados, bolsas e acessórios; a Solleda empresa de energia limpa; a Marina Tecnologia, que produziu um biocomposto feito com pó de arroz; a Easypro Tech, empresa de tecnologia que oferece soluções para rotina do “chão de fábrica”; a Acio Soluções Tecnológicas, que criou sistema de automatização de entrega com rastreabilidade; e a Live Shop 4Show, plataforma de vendas on-line em lives.
O dia 24 teve ainda apresentações da Associação Nacional da Indústria de Material de Segurança e Proteção ao Trabalho (Animaseg) e da Stahl.
Painel internacional
O segundo dia de programação iniciou com um painel com calçadistas da Argentina, Espanha e México. Na oportunidade, Daniel Risafi, vice-presidente da Câmara das Indústrias de Calçados da Argentina (CIC), contou que a indústria de calçados argentina recicla apenas 6% dos seus resíduos, mas que existe grande pressão social para que se avance mais na questão. Segundo Risafi, hoje o Brasil é o principal fornecedor externo de calçados daquele país. “Dos mais de 40 milhões de pares importados, cerca de 20 milhões são brasileiros”, disse.
Tratando de um dos mercados mais avançados da Europa, no que diz respeito à sustentabilidade, o diretor de Marketing e Desenvolvimento de Negócios da Federação das Indústrias de Calçados da Espanha (FICE), Imanol Martinéz Gómez, destacou que o parque industrial espanhol trabalha, basicamente, com produtos de maior valor agregado e respeito ao meio ambiente, com processos produtivos que diminuem o impacto ambiental, com redução do uso de resíduos e uso de energias renováveis. “Temos uma das economias mais abertas do mundo, mas também exigente no que diz respeito à sustentabilidade”, contou.
Representando um dos principais mercados de calçados no continente americano, o presidente do Conselho Diretivo da Câmara das Indústrias de Calçados do Estado de Guanajuato (CICEG), no México, Alfredo Padilla Villalpando ressaltou que a pandemia de Covid-19 afetou o setor calçadista mexicano, mas que a atividade vem em recuperação. “O setor está em recuperação, principalmente na questão do consumo. O consumidor mexicano preza por produtos cada vez mais sustentáveis e que tenham durabilidade, quesito em que o couro ganha vantagem”, disse, ressaltando que muitas companhias internacionais que importam do México vêm solicitando calçados sustentáveis, o que tem causado uma transformação do setor.
Conexões com propósito
Fundada em 2020, em plena pandemia, pelas irmãs Ana Vitória Surreaux, Helena Duncan e Zélia Duncan, a Ímã foi responsável pela segunda apresentação do dia. A Imã realiza o mapeamento das empresas para identificar ações sociais que podem ser realizadas nas empresas, por longos prazos. “Promovemos a intersecção de negócios, causas e culturas, auxiliando as empresas a encontrarem um processo de propósito social aliado ao crescimento, por meio de uma economia regenerativa”, enfatizou Ana Vitória.
Preview
Após os temas Corpo, Terra e Primal, o próximo INSPIRAMAIS, nos dias 11 e 12 de julho, trará o tema Homo Faber. Segundo Rodrigues, que voltou ao palco da Arena de Inovação para explicar a próxima pesquisa, o estudo apresenta como é construído o processo de consumo e de geração de valor. Geometria, poesia e manualidade foram as palavras chave para conceituação das modelagens, recortes, aspectos, bem como as formas que serão exploradas para aplicação nos produtos.
Tratando especificamente do couro, o consultor de Pesquisa e Design da Assintecal, Marnei Carminatti, destacou que a pesquisa mostrará a força do curtume, das tecelagens, do homem que faz. O foco estará no manuseio do couro, que se dá desde a extração da pele animal até a finalização do produto. Embasaram a pesquisa o pragmatismo, a geometria e poesia, observados em acabamentos manuais, descaracterização da aparência do couro, texturas diferenciadas e gravações com nuances diversas. Além do couro vacum, Carminatti ressaltou que é possível observar a permanência de outros tipos de pele, como de avestruz, tilápia, pirarucu e peles exóticas, usadas em produtos adequados e direcionados a artigos de luxo. A geometria presente na modelagem, estampas, serigrafia sobre o pelo possibilitam múltiplas máscaras ao couro.
O segundo dia de palestras teve ainda apresentações do case do site Vakinha e da DBServer, esta última sobre a fase espacial vivida pela computação.
“A evolução para essa fase teve início com os equipamentos de assistentes de voz. O paradigma desse setor se torna menos visual e mais auditivo, é possível perceber por meio de relógios e fones inteligentes e o próximo passo se direciona aos óculos de realidade aumentada”, disse José Rodolfo Masiero, gerente de Inovação da empresa. Segundo ele, mobilidade urbana, energia, água, saúde, comunicação e entretenimento são algumas das áreas fortemente impactadas pela evolução tecnológica. “A inserção constante do conceito metaverso na sociedade se dará na utilização de realidade aumentada e ambientes virtuais em 3D. Através da tecnologia blockchain, informações do mundo real podem ser inseridas, intercaladas e acessadas no mundo virtual”, concluiu.