Marcos Bonas
Nos últimos anos, o Brasil testemunhou um avanço significativo na integração da tecnologia no setor financeiro, impulsionado pela ascensão das fintechs e pela adoção de soluções inovadoras por parte das instituições tradicionais. Esse fenômeno tem transformado a maneira como as pessoas lidam com suas finanças, oferecendo conveniência, acessibilidade e eficiência, captando clientes e aquecendo o mercado.
Uma das principais áreas em que a tecnologia tem deixado sua marca é no acesso aos serviços financeiros. Anteriormente, muitos brasileiros enfrentavam dificuldades para abrir contas bancárias ou obter crédito devido a burocracias e à falta de histórico de crédito. No entanto, com o surgimento, nos últimos anos, de fintechs especializadas em inclusão monetária, mais pessoas têm acesso a serviços básicos.
Além disso, a tecnologia também está revolucionando a forma como os pagamentos são realizados no Brasil. Com a popularização das carteiras digitais e dos sistemas de pagamento por aproximação, as transações financeiras tornaram-se mais rápidas, seguras e convenientes.
De acordo com pesquisa realizada pela consultoria Ernst & Young em parceria com o Google, estima-se que os pagamentos digitais cresçam cerca de 35% no Brasil em 2023. Além disso, o número de usuários de carteiras digitais deverá ultrapassar 4,4 bilhões até 2025 – segundo dados da Juniper Research. Isso tem impulsionado a adoção do cashless, reduzindo a dependência do dinheiro físico e fomentando a economia digital.
Um exemplo mundial desse tipo de aplicação é o PIX, oferecido pelo Banco Central do Brasil a pessoas físicas e jurídicas, que funciona 24 horas, ininterruptamente, sendo o mais recente meio de pagamento do Sistema de Pagamentos Brasileiro. Segundo levantamento feito pela Febraban sobre meios de pagamento, com base em dados divulgados pelo Banco Central e pela Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartão de Crédito e Serviços), o Pix é o meio de pagamento mais usado no Brasil em 2022, com mais de 24 bilhões de transações e uma média de 66 milhões de operações diárias. As transações do Pix superam as de cartão de crédito, débito, boleto, TED, DOC e cheques (sim, ele ainda está lá. Cada vez menos, mas ainda existe), no Brasil, as quais, juntas, totalizaram 20,9 bilhões.
O Brasil é um case de sucesso na aplicação de tecnologia financeira, com um sistema que serve de exemplo e inspiração para países como por exemplo os Estados Unidos, que conta com um sistema financeiro baseado no mercado de capitais, no qual a principal função dos bancos é ofertar crédito para garantir o funcionamento do mercado à vista, com liquidez das carteiras. Diferentemente desse sistema, o mercado brasileiro conta com uma oferta maior de concessão de crédito nas mais variadas formas.
Grandes Bancos se Transformaram em verdadeiras Tech Companies
Além das fintechs, os bancos tradicionais brasileiros também têm se reinventado, adotando soluções tecnológicas avançadas e se posicionando como verdadeiras “tech companies” do setor financeiro.
Os bancos tradicionais perceberam que precisavam se adaptar rapidamente para não perder espaço no mercado e continuar sendo cada vez mais relevantes para o consumidor final. Há um investimento pesado em inovação, melhorias de experiência, automatização de processos e inteligência artificial para oferecer serviços cada vez mais ágeis e personalizados aos clientes.
Falando em IA, a aplicação de inteligência artificial também caminha a passos largos no Brasil, trazendo cada vez mais velocidade no desenvolvimento de novos serviços ou melhorias de serviços atuais, qualidade, otimização e segurança de processos. Vemos todos os dias o processo de incorporação da inteligência artificial na melhoria das jornadas do cliente, nas operações de crédito, atendimento, fidelização e prevenção a fraudes. Esse tipo de aplicação somada ao sucesso do PIX e oferta variada de crédito à população, deve consolidar o Brasil cada vez mais como uma referência mundial no uso de tecnologia para serviços financeiros.
Desafios e oportunidades
É preciso considerar, no entanto, que apesar dos avanços, a tecnologia financeira no Brasil ainda enfrenta desafios significativos. Um dos principais obstáculos é a questão da inclusão digital, especialmente em comunidades de baixa renda, onde o acesso à internet e a dispositivos móveis é limitado.
De acordo com o Relatório de Desenvolvimento do Banco Mundial, até 2025, cerca de 1,7 bilhão de adultos em todo o mundo, a maioria nos países em desenvolvimento, permanecerão sem acesso a serviços financeiros formais. Para que a tecnologia financeira possa verdadeiramente beneficiar toda a população brasileira, é crucial investir em infraestrutura digital e programas de educação financeira.
Além disso, a segurança cibernética continua sendo uma preocupação importante. Com o aumento das transações online, cresce também o risco de fraudes e ataques cibernéticos. As empresas de tecnologia financeira e as instituições reguladoras devem trabalhar em conjunto para implementar medidas eficazes de proteção de dados e garantir a segurança dos usuários.
Outro desafio enfrentado pela tecnologia financeira no Brasil é o ambiente regulatório complexo. Embora as regulamentações tenham evoluído nos últimos anos, ainda há obstáculos regulatórios que podem dificultar a inovação e o crescimento do setor. É fundamental que o governo promova um ambiente regulatório claro e favorável à inovação, incentivando o desenvolvimento de soluções financeiras criativas e acessíveis.
Por fim, há a incansável busca pela digitalização de serviços de forma a trazer mais eficiência e conveniência para o cliente final, mas também, redução de custos operacionais.
Fundamentalmente, a tecnologia financeira oferece oportunidades emocionantes para o Brasil, promovendo inclusão financeira, simplificando os processos bancários e impulsionando o crescimento econômico. No entanto, para que esses benefícios sejam plenamente realizados, é preciso enfrentar os desafios relacionados à inclusão digital, segurança cibernética e regulamentação. Com o compromisso contínuo das empresas, do governo e da sociedade civil, o Brasil está bem posicionado para se tornar o grande líder global em tecnologia financeira nos próximos anos.
*Marcos Bonas é VP de Engenharia e Consultoria na Zup, empresa de tecnologia que desenvolve produtos para que companhias de diversos setores tenham sistemas seguros e escaláveis, que impulsionam o crescimento do negócio.