Um levantamento inédito do Observatório Brasileiro de Redes e Centrais de Negócios mapeou 501 redes e centrais de negócios que, juntas, contemplam mais de 25 mil empresas em atividade no Brasil. O número representa um marco dentro de um setor que vem crescendo nos últimos anos impulsionado pela criação de grupos de negócios em diferentes setores econômicos, com destaque para o varejo de alimentos (133 redes), farmácias e drogarias (106) e materiais de construção (88).
O mapeamento também observou números relevantes de grupos de negócios relacionados aos setores de autopeças e mecânicas; agronegócios; varejo de móveis; e educação. Liderado pelo pesquisador e professor Douglas Wegner, da Fundação Dom Cabral (FDC), o estudo revelou ainda a existência de uma base de sustentação para o desenvolvimento do núcleo de empresas participantes dessas redes e centrais de negócios.
Ao todo, o país contempla ao menos quatro entidades de fomento ao associativismo, incluindo o Governo do Rio Grande do Sul, Sebrae e o Semesp, além de quatro federações de redes (Febramat, Febrafar, Fernem e Fórum Nacional de Redes Associativistas) engajadas neste ecossistema.
Foram mapeadas também cinco redes “mães” de redes de negócios, RedeCen (RS), Rede Brasil (SP), Rede Integrada (CE), Super Central Mineira (MG) e Construir Nacional (SP), e três empresas e consultorias focadas no segmento: Área Central, líder em tecnologia e inteligência coletiva para grupos de negócios; Redexpert, consultoria com foco na gestão organizacional; e Anjos do Varejo, consultoria especializada em lojas de materiais de construção.
O número expressivo de redes e centrais de negócios no Brasil tem impacto direto sobre a economia. De acordo com o pesquisador, muitas redes são resistentes a compartilhar números, o que dificulta um cálculo preciso de resultados e geração de empregos do setor. Entretanto, estimativas do próprio Observatório apontam para um universo composto por quase 200 mil pessoas impactadas direta ou indiretamente pelo setor, o que representa um grande contingente de empregos e renda distribuídos nas regiões onde essas empresas atuam.
Outro indicativo do impacto financeiro das redes e centrais de negócios é mensurado pela Área Central, que reúne em sua plataforma de gestão especializada nessa área de atuação mais de 200 redes e centrais de negócios. Somente em 2022, a empresa contabilizou cerca de 240 mil transações que resultaram numa economia conjunta de aproximadamente R$ 500 milhões através de compras conjuntas realizadas por redes e centrais de negócios e fornecedores de mais de 20 segmentos econômicos diferentes.
Sul e Sudeste são destaque em associativismo empresarial
De acordo com Douglas Wegner, a maior incidência de redes e centrais de negócios brasileiras está baseada em estados das regiões Sul e Sudeste.
“No Sul o setor se mostra mais consolidado porque houve um programa público de apoio à formação de redes que contribuiu de maneira muito significativa para esse número de redes ativas. Já no Sudeste, pela questão demográfica e número de empresas, a região foi e continua sendo um campo fértil para formação de redes. Os exemplos bem-sucedidos nessas regiões também ajudaram a fazer com que mais empresas procurassem o associativismo empresarial como forma de obter melhores resultados”, sinaliza.
O cenário é bem diferente de décadas passadas, quando o fomento à participação de empresas independentes em grupos empresariais era menos intenso. Douglas Wegner destaca que a evolução do setor acontece à medida que os benefícios deste modelo de negócios vem sendo popularizados e tornam-se mais claros para os empreendedores.
Hoje um dos principais chamarizes do segmento é a possibilidade de realização de compras conjuntas de produtos e serviços, na qual o poder de barganha do varejista é maior junto aos fornecedores de insumos e produtos que, posteriormente, serão vendidos para o consumidor. Ou seja, há impacto direto sobre os custos e os lucros de uma empresa.
Outros destaques positivos são as possibilidades que os grupos oferecem para o desenvolvimento mútuo das empresas associadas, como a oferta de serviços diferenciados e oportunidades de capacitação, marketing, inovação, acesso a conhecimentos de mercado, tecnologia e atividades de apoio.
O futuro do setor
Os insights gerados pelo levantamento revelam que o crescimento do segmento também se traduz em oportunidade para agregar entidades empresariais como associações comerciais e industriais, câmaras de comércio e instituições ou programas de fomento à criação de redes.
Conforme Douglas Wegner, muitas dessas entidades atualmente funcionam apenas na representação de interesses e alguns serviços específicos, mas elas têm um ativo que não está sendo integralmente aproveitado: “elas têm a relação com centenas de empresas que, bem articuladas, podem formar potentes redes e centrais de negócios. Isso vale para todas as regiões do país”.
Apesar do cenário promissor, o Observatório Brasileiro de Redes e Centrais de Negócios indica que, com o tempo, em alguns setores o mercado deve observar uma redução do número de redes, simplesmente porque não faz sentido haver dezenas de redes em atuação.
“São setores em que o número de empresas em rede seguirá aumentando, mas não o número de redes existentes. Me refiro a setores como materiais de construção, farmácias, móveis e supermercados. Em outros setores surgirão novas redes, porque os empresários estão começando a perceber os benefícios da cooperação”, justifica.
Mapa de Redes e Centrais de Negócios – Setores em Destaque (2023)
Supermercados
Número de redes: 133
Número de empresas associadas: 4.000
Estados impactados: 14
Participação por região: Sudeste (59), Sul (38), Nordeste (32) e Centro-Oeste (4)
Farmácias e Drogarias
Número de redes: 106
Número de empresas associadas: 16.000
Estados impactados: 16
Participação por região: Sudeste (58), Sul (28), Nordeste (16) e Centro-Oeste (4)
Materiais de Construção
Número de redes: 88
Número de empresas associadas: 2.700
Estados impactados: 18
Participação por região: Sudeste (44), Sul (25), Nordeste (13), Centro-Oeste (5) e Norte (1)